Quem diria! O berço do proibicionismo acorda para a vida e começa a dar exemplo ao mundo no que diz respeito à legalização da maconha. A partir de hoje – agora, já! – o Estado de Washington transformou-se no primeiro dos Estados Unidos a legalizar o uso recreativo da maconha. Trata-se de um feito inédito no país do Tio Sam – e em toda a América. Com a entrada da lei em vigor, depois de um referendo realizado há 30 dias, comemorações por todo o Estado tiveram a erva sagrada como personagem principal.
Cerca de 200 pessoas se reuniram por volta da meia-noite em frente à Space Needle, uma torre futurista que domina a paisagem urbana, para festejar a liberdade recém-conquistada. “Você pode fumar e não se sentir um criminoso. Realmente não é diferente de beber uma cerveja ou coisa assim, de fato eu penso que é menos nocivo”, disse o esclarecido Calvin Lee à emissora de TV local Kiro 7.
A norma prevê a legalização da posse e uso de até 28 gramas da erva para aqueles com mais de 21 anos. Alguns Estados americanos já tinham legalizado a maconha para fins medicinais, mas Washington é o primeiro a permitir o uso da erva apenas por diversão.
Os moradores de Colorado aprovaram uma lei similar no mês passado, no mesmo dia em que o presidente Barack Obama foi reeleito, mas os canabistas terão que aguardar até 5 de janeiro para comemorar o fim da proibição – antes tarde, do que nunca!
Durante a festa em Washington, os limites da nova lei foram colocados à prova: o encontro na Space Needle foi tecnicamente ilegal, já que a lei só permite o consumo de maconha em ambiente privado, o que exclui seu uso em público. Felizes da vida, canabistas de diversas faixas etárias deixaram a censura de lado e comemoraram como se deve, ou seja, acendendo um vela em homenagem aos novos tempos!
Muito comportados, os policiais não agiram e o Departamento de Polícia de Seattle informou que, por enquanto, só fará advertências verbais, embora em tese possam impor multas de US$ 50 a quem insistir em fumar maconha em rua ou praça pública. A polícia recebeu elogios de um blog, que se tornou um sucesso instantâneo na internet, ao fazer uma abordagem leve para explicar exatamente o que é e não é permitido na nova lei.
Intitulado “Marijwhatnow? A Guide to Legal Marijuana Use in Seattle” (“Maconha já? Um guia para o uso legal da maconha em Seattle”, na tradução) inclui um link para um vídeo clipe do filme Senhor dos Anéis, intitulado “A erva mais refinada”, mostrando Gandalf soprando, meditativo, anéis de fumaça com Bilbo Bolseiro. “Gandalf, meu velho amigo. Esta será uma noite memorável”, diz Bilbo, enquanto o mago observa, com o olhar nebuloso.
Mais amplamente, as novas leis de Washington e do Colorado vão de encontro à legislação federal, que ainda proíbe o uso recreativo de maconha em todo o país. “Independentemente de quaisquer mudanças na lei estadual, a venda ou posse de qualquer quantidade de maconha permanece ilegal segundo a legislação federal”, indicou o gabinete do promotor-geral em Seattle.
Mas empresários já estão de olho nas lucrativas oportunidades de negócios provenientes da legalização da maconha em Washington. Alguns já ganharam o apelido de “ganja-preuners” (“empresários da erva”, na tradução). “Nossas lojas terão a atmosfera de uma tabacaria fina”, declarou à rede de TV CNN Jamen Shiveley, ex-executivo da Microsoft que espera abrir vários locais de venda de maconha.
“Nosso público alvo são na verdade os ‘baby boomers’ (pessoas nascidas após a Segunda Guerra Mundial). Esses caras devem ter experimentado na faculdade algumas vezes e provavelmente não tragaram, mas agora está tudo bem se tragarem”, acrescentou, em alusão a uma declaração polêmica do ex-presidente Bill Clinton.
Os encarregados das finanças no Estado também esfregam as mãos diante da perspectiva de ganhos de 25% de impostos sobre os lucros advindos da maconha vendida legalmente, uma cifra que antes ficava estritamente nas mãos da economia marginal.
Depois das comemorações à meia-noite, uma nova celebração pública está prevista para as 19h (hora local) desta quinta-feira (1h de sexta, hora de Brasília) no chafariz central de Seattle, novamente apesar da proibição, prevista na nova lei.
