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As origens da maconha no Brasil (parte 1/3)

Em se tratando de maconha, o cotidiano atual dos brasileiros pode ser resumido em duas palavras: proibição e prensado.

O maior país da América do Sul – e quinto mais extenso do mundo – também é famoso pela postura conservadora em relação à erva, além de ser a pátria-mãe de alguns dos mais lendários – e equivocados – proibicionistas do planeta. Mas, se de um lado há repressão, por outro sobressai uma militância canábica cada vez mais heterogênea, criativa e disposta a lutar pela liberação da planta.

Para tentar desvendar um pouco deste imbróglio que nos cerca, fui convidada pela revista Soft Secrets Latam a fazer uma reportagem sobre a História da maconha no Brasil. Publicada na edição de julho/agosto, a matéria investiga as raízes do preconceito e da mentalidade proibicionista que insistem em sobressair no país muito antes dele se chamar Brasil. A primeira parte investiga as origens da cannabis em solo tupiniquim. Boa leitura!

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Embora não haja um consenso exato sobre a origem da cannabis em terras brasileiras, botânicos e historiadores concordam que se trata de uma espécie exótica introduzida primeiramente pelos escravos negros – não por acaso, a erva era conhecida no passado por nomes de origem africana, como diamba, pito do pango e fumo d’Angola. “A planta teria sido introduzida em nosso país, a partir de 1549, pelos negros escravos, (…) e as sementes de cânhamo eram trazidas em bonecas de pano, amarradas nas pontas das tangas“, relata o documento oficial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, de 1959.

Se o uso psicoativo remonta à senzala, as aplicações industriais da maconha são ainda mais antigas do que as as velas de cânhamo da embarcação que possibilitou ao português Pedro Álvares Cabral desbravar o Brasil em 1500. Nos tempos da Colônia, inclusive, a Coroa portuguesa chegou a estimular a produção de cânhamo, que consistia em matéria-prima fundamental para a fabricação de cordas e velas para a indústria naval . “Um exemplo disso é a instalação de algumas unidades da Real Feitoria do Linho Cânhamo a partir da segunda metade do séculos XVIII”, destaca Henrique Carneiro, professor de História da Universidade de São Paulo (USP).

 As origens do cultivo de maconha no Brasil

Destinada ao cultivo de cânhamo, a Real Feitoria do Linho Cânhamo funcionou entre os anos de 1783 e 1789 na região sul do Rio Grande do Sul, onde hoje fica o município de Pelotas. Na época, Portugal pagava caro para importar o linho de cânhamo da Inglaterra. “Por isso, a instalação da Real Feitoria foi uma decisão estratégica da Coroa portuguesa na tentativa de suprir a demanda por esse vegetal que é um dos mais importantes da história da humanidade”, conta Carneiro.

Mas o que tudo indica a história do cultivo oficial de maconha no Brasil pode ser ainda mais antiga: há registros de que, em 1755, o então governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire, escreveu ao secretário de Estado da Marinha, Diogo de Mendonça Corte Real, informando que sementes de linho cânhamo haviam estragado e solicita que se mandem mais uma carga, pois agora haviam encontrado terra propícia ao cultivo

Não seria a primeira vez que os portugueses se arriscariam a plantar maconha em terras brasileiras. Pouco tempo antes, em 1747, o mesmo Gomes Freire comandou uma tentativa de cultivo frustrada na Ilha de Santa Catarina, atual Florianópolis, que não chegou a vingar.

(continua…)

*  Reportagem publicada originalmente em espanhol na revista Soft Secrets Latam. 

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