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Dr. Bud responde: supositório de maconha funciona?

Muito se falou recentemente sobre o uso de um tampão feminino feito com cannabis para aliviar cólicas menstruais. Mas o que quase ninguém discute ainda – pelo menos não no Brasil – foi o uso de supositórios de maconha por via retal.

Sim, é isso mesmo que você leu: dentre as muitas formas possíveis para o consumo de cannabis, existe também a possibilidade de fazer uso da erva por via retal.

Mas será que o método é eficiente? Quais os benefícios e riscos da administração retal de extratos de maconha?

Para dissertar sobre tão invasivo & intrigante tema, mais uma vez acionamos o médico cardiologista Dr. Bud*.

Composição

Em formato invariavelmente ovalado, o supositório de maconha é composto por uma mistura de extrato de cannabis e óleo de coco (ou manteiga de cacau).

“É importante prestar atenção à origem do produto, que deve ser produzido e conservado sob condições rigorosas de higiene”, alerta Dr. Bud. “Desconfie de versões artesanais, caso não conheça muito bem os métodos e responsáveis pela produção.”

Opções

É bem verdade que, embora aumente cada vez mais o interesse por supositórios de maconha, ainda há pouca coisa disponível no mercado internacional. E, obviamente, nada no Brasil.

supositorio_de_maconha

Na internet, é possível encontrar algumas opções de supositórios de CBD, além do já tão falado Foria (indicado para uso vaginal).

Indicações

A esta altura deve ter leitor se perguntando: mas por que cargas d’água alguém optaria por introduzir cannabis no ânus se existem tantas formas de uso, incluindo baseados, vaporizadores, comidas, adesivos transdérmicos, etc?

Preferências pessoais à parte, a administração de medicamentos por via retal pode ser muito útil para determinados pacientes, incluindo aqueles com dificuldade de deglutição ou problemas digestivos, que jamais conseguiriam tomar uma pílula ou óleo por via oral.

“É o caso, por exemplo, de pacientes em tratamento com quimioterapia, que podem sofrer com náuseas extremas, ou de idosos e até mesmo crianças que não conseguem engolir comprimidos”, acrescenta Dr. Bud.

Vantagens

A principal vantagem do uso de qualquer medicação por via retal é a rápida absorção do princípio ativo, que chega em instantes à corrente sanguínea.

Quando se trata de maconha, parece que a administração anal possui diversas vantagens em relação aos métodos de consumo mais utilizados.

O estudo intitulado Rectal Absorption of Cannabinoids”, de autoria do Dr. Allan Frankel, do GreenBridge Medical, comparou a eficiência e o tempo de absorção das diferentes formas de uso medicinal de cannabis.

Segundo a pesquisa, inalar maconha (através de um baseado, por exemplo) produz efeitos quase imediatos, mas que desaparecem rápido assim que cessa o consumo.

Já os efeitos da ingestão oral de cannabis (através de óleos e comidas) demoram até 90 minutos para “bater”, uma vez que requer a absorção através do fígado e intestino. Em compensação, os efeitos são mais duradouros.

Já na administração via retal, a absorção é rápida – de 10 a 15 minutos – surtindo efeitos que podem durar de quatro a oito horas.

Eficácia

Ainda segundo Dr. Frankel, inalar cannabis possui entre 10% a 25% de eficácia, a depender da quantidade e frequência com que se fuma/vaporiza, enquanto quem opta por comer conta com até 20% de eficácia.

Já a aplicação de supositórios de cannabis no ânus chega a ter entre 50% a 70% de eficácia.

Ao analisar a farmacocinética dos canabinoides, outro estudo – “Human Cannabinoid Pharmacokinetics” – sugere que a “biodisponibilidade da via retal foi aproximadamente o dobro da da via oral devido a uma maior absorção e um metabolismo de primeira passagem mais baixo.

Mas será que funciona?

Após analisar a ainda escassa literatura disponível sobre o tema, além de alguns relatos de pacientes na internet, Dr. Bud reflete: “não existem dúvidas de que a cannabis é uma opção de tratamento eficaz para diversas condições médicas, incluindo dor crônica, distúrbios gastrointestinais, ansiedade, depressão, epilepsia“.

Da mesma forma, é preciso admitir que as formas de administração mais utilizadas nem sempre são convenientes a todos os pacientes. “”Embora ainda sejam escassos os estudos científicos comprovando a eficácia do uso de supositórios de maconha, a absorção de princípios ativos através do reto é largamente conhecida e utilizada na medicina. Não vejo porque seria diferente no caso da cannabis”, diz.

Testes

Infelizmente, não será dessa vez que a equipe Maryjuana oferecerá um review sobre o uso retal de cannabis. Não por iniciativa própria – já que vontade não nos falta! – mas, sim, porque no momento estamos no Brasil e não existe nada disponível. Quem sabe, em breve….

No entanto, a sortuda colega Scarlet Palmer, do Sensi Seeds Blog, recentemente fez uma excelente reportagem em que narra sua experiência – recreativa, diga-se de passagem – com um supositório de maconha.

Quem aí também se habilitaria?

*Dr. Bud: nome fictício; pseudônimo de um experiente cardiologista & canabista formado por uma das mais importantes universidades brasileiras de Medicina. Com mais de 20 anos de profissão e de fumaça, adora pesquisar as relações entre cannabis e saúde. Responsável por um movimentado consultório em algum canto qualquer do país, por motivos óbvios ele prefere ser identificado apenas como Dr. Bud, “até que a maconha seja finalmente legalizada no Brasil”, como costuma dizer. Nas horas vagas, é o consultor Maryjuana para assuntos medicinais em geral. 

**Fotos: Cannabis Culture e Sensi Seeds

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