Revolta, dor e indignação são os sentimentos que vêm à tona quando nos defrontamos com o caso de Ras Geraldinho, fundador da igreja rastafári condenado há 14 anos de prisão por cultuar e cultivar canábis. Contrariando até mesmo a Constituição Federal, que prevê plena liberdade de culto, o líder religioso recebeu uma sentença injusta e permeada por preconceitos raciais e culturais – isso num país recheado de pastores que de tão corruptos são políticos (e vice-versa).
Enquanto isso, no próximo dia 14 de agosto completará um ano da prisão do Ras e, para marcar esta trágica data e articular um movimento em nome da liberdade, será realizada entre os dias 17 e 18 de agosto uma vigília na cidade de Americana (SP), mais precisamente na sede da I Primeira Niubingui Etíope Coptic de Sião do Brasil.
Se puder e estiver pelo interior de São Paulo, compareça! Acesse aqui a página do evento do Facebook para maiores detalhes. Além de ajudar a fortalecer uma causa mais do que nobre, você terá a chance de conhecer um local mágico, cercado por um lindo jardim repleto de árvores, flores e pássaros – sem falar no altar-rasta, repleto de referências culturais típicas do rastafarianismo. Compareça, ajude a disseminar a verdade e faça alguma coisa pela legalização da maconha no Brasil!
TUDO MENOS TRAFICANTE!
Confira abaixo texto enviado por Marlene Martim, companheira de Ras Geraldo e atual responsável pelas atividades da Niubingui, falando sobre a atual situação do líder religioso, que atualmente está preso na cidade de Iperó (SP).
“Antes de mais nada, gostaria de agradecer em nome da NIUBINGUI e deixar aqui nossos profundos agradecimentos! Sozinhos nesta luta não conseguiríamos nada, isto é certo. Temos recebido muito apoio e solidariedade. Mesmo assim percebemos o quão árdua se mostra a tarefa de acordar consciências adormecidas nas décadas deste erro histórico, que é a proibição da canábis.
Desde a prisão do Ras Geraldinho nossas vidas passaram por transformações importantes. Somos gratos por isso! Infelizmente, temos percebido o que é, realmente, a “alma humana”. Se, por um lado, percebemos o real valor da amizade que angariamos ao longo deste tempo, é imperioso que se diga que a mesma alma sustenta valores mesquinhos e de baixo teor vibratório.
Após a prisão do Ras, sentindo a realidade do Sistema Prisional Brasileiro, eu me fiz algumas perguntas: Onde termina a Justiça e onde começa a Vingança no Código Penal Brasileiro? Onde começa a Vingança e quando ela se transforma em tortura no Código Penal Brasileiro? É esse o anseio da Sociedade Brasileira? Não apenas desejar que a Justiça se faça, mas que ela venha com o peso da vingança e com o braço torturador da Secretaria de Administração Penitenciária?
Ras Geraldinho pouco reclama das agruras do cárcere. Pelo contrário. Tem um espírito de sacrificio que faz sua pena ficar mais leve e, principalmente, tem um espírito de gratidão a tudo e a todos.
Para ele, o juiz e o promotor que o condenaram são ferramentas nas mãos de Jah e, como ele costuma dizer: “o juiz que me condenou, condenado ele também está”.
Ficou nove meses sem ver a luz do sol, sem ver uma planta, um passarinho…Depois que foi transferido viu que a realidade das penitenciárias era ainda pior do que ele imaginava. Ficou 5 dias dividindo um pequena cela com mais seis presos, sem luz e com apenas uma torneira a meio metro de altura. Se isso não é tortura eu não sei o que é.
Antes de descer para o pavilhão, o diretor o chamou para fazer as perguntas de praxe: qual seu crime? Pertence a alguma facção? Etc. Ele respondeu que não, não era criminoso e não gostaria de ser encaminhado à um pavilhão com criminosos de verdade. Contou que era líder rastafári, ao que o diretor lhe respondeu: “isso é uma seita e eu sei que aqui na penitenciária existe consumo de maconha, mas eu não quero ouvir duas palavras juntas para onde vou te mandar: bíblia e maconha.
Ras Geraldinho respondeu: “Senhor, as pessoas amam a maconha e as pessoas amam a bíblia. De forma que eu não sei até que ponto vou poder obedecê-lo.”
As últimas notícias que temos sobre o processo são as seguintes: em Brasília (STJ) o Habeas Corpus foi negado. Já foi protocolado o recurso pertinente. Estamos aguardando o julgamento do recurso. O Relator, MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, argumenta no indeferimento que a filosofia de vida do paciente “revela que solto ele continuará a praticar os rituais religiosos com o uso de ‘maconha’, sem possuir autorização para tanto, autorização aliás, incabível diante do nosso ordenamento” e que as questões suscitadas no presente mandamus são complexas, demandando um exame aprofundado dos autos, o que apenas ocorrerá com o exame e julgamento do mérito pelo Órgão Colegiado.” O processo já se encontra no Tribunal de Justiça de São Paulo, em segunda instância e o Dr. Alexandre Khuri esclarece que “ESTAMOS DANDO ENTRADA NAS RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO.”
(Marlene Martim, companheira de Ras Geraldo)
VIGÍLIA PELA LIBERTAÇÃO DE RAS GERALDINHO – 1 ANO DE INJUSTIÇA!
Data: 17 e 18 de agosto
Local: I Primeira Niubingui Etíope Coptic de Sião do Brasil – Americana (SP)