Além das aplicações navais e industriais, pouco se sabe sobre o cultivo e consumo de maconha nos primórdios do Brasil Colônia. O que existe é um consenso entre os historiadores relacionando o uso psicoativo da erva aos escravos, que trouxeram da África o hábito de fumar a “diamba” – depois apelidada de “pito do pango” pelos portugueses.
Uma das referências mais célebres ao uso de maconha na senzala pode ser encontrada na obra “Sobrados e Mucambos”, de Gilberto Freyre. Lançado em 1936, o livro relata a decadência do patriarcado rural no Brasil. Ao analisar a formação do povo brasileiro, o autor destaca a importância da influência de hábitos e costumes genuinamente africanos:
“Mas as tradições religiosas, como outras formas de cultura, ou de culturas negras, para cá transportadas, junto com a sombra das próprias árvores sagradas, com o cheiro das próprias plantas místicas – a maconha ou diamba, por exemplo – é que vêm resistindo mais profundamente, no Brasil, à desafricanização. Muito mais que o sangue, a cor e a forma dos homens. A Europa não as vencerá. A interpenetração é que lhes dará formas novas, através de novas combinações dos seus valores com os valores europeus e indígenas.” (FREYRE, Gilberto, p. 650)