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Ex-senador dos EUA aposta no mercado canábico

Aos 85 anos de idade, o ex-senador americano e veterano de guerra Maurice Robert Gravel decidiu apostar num comércio que promete ser lucrativo: a fabricação de produtos de uso recreativo e terapêutico feitos à base de cannabis sativa, a maconha.

Mike Gravel, como é mais conhecido, já aspirou a uma candidatura às eleições americanas pelo partido Democrata, em 2008, após ser senador pelo estado do Alasca nos anos de 1969 e 1981.

Nascido na cidade de Springfield, em Massachusetts, e filho de pais canadenses francófonos, Gravel tem, no mínimo, uma trajetória curiosa: de veterano de guerra do exército americano a defensor de ideias polêmicas como a descriminalização das drogas, o casamento gay, o direito ao aborto e um programa de trabalho temporário para imigrantes indocumentados até que sejam naturalizados.

No Congresso, lutou ainda pela publicação de documentos do Pentágono sobre a guerra do Vietnã.

Hoje, longe do Senado e sem aspiração a lançar qualquer candidatura política, ele dirige uma empresa especializada em desenvolver e comercializar produtos médicos e de uso recreativo feitos de maconha.

“Penso que todas as drogas devem ser descriminalizadas e reguladas. Não faço nenhuma distinção entre drogas leves e pesadas. Legalizar a cannabis, na minha opinião, seria o primeiro passo para se regular devidamente este mercado”, argumenta.

O ex-senador conversou com a BBC Brasil em Nova York, após um bate-papo com jornalistas estrangeiros na sede da Associação de Correspondentes das Nações Unidas (UNCA).

Ele explicou por que optou por aceitar o convite de integrar não só o conselho de diretores da Cannabis Sativa, Inc.; como presidir o conselho da Kush, uma subsidiária; e ser o CEO de outra, a THC Pharmaceuticals, Inc., para pesquisa, desenvolvimento e patentes de produtos médicos contendo cannabis em sua fórmula. Todas as três empresas têm sede na Califórnia, estado onde o ex-senador mora há 20 anos.

“Tenho trabalhado para o fortalecimento da democracia, a minha maior motivação é empoderar as pessoas para que sejam capazes de ajudar na elaboração de leis”, disse.

“Por ser tão controverso como sempre fui, nenhuma corporação me convidou para integrar qualquer conselho de diretores. Mas há pouco mais de dois anos, durante as últimas eleições americanas, me convidaram para participar da diretoria deste grupo de empresas. E, depois de um tempo, me promoveram a diretor executivo. É a primeira vez que faço algo do gênero e a minha esposa tem apoiado as minhas escolhas em todos os momentos.”

No site da Cannabis Sativa, Inc., a própria empresa anuncia: “Acreditamos que acannabis representará a próxima corrida ao ouro e estamos preparados para moldar o seu futuro em um ambiente legal”.

A Cannabis Sativa, Inc. produz cápsulas de óleo de cânhamo solúveis. Segundo a empresa, ao ser diluída, a água ajuda a facilitar a absorção das moléculas do óleo pelo organismo. Este suplemento aumenta a biodisponibilidade do óleo de cânhamo (tanto a quantidade quanto a velocidade em que o princípio ativo é absorvido) de 6% para 60%.

Já a Kush tem entre seus produtos principais o “Kubby”, uma pastilha para a garganta à base de maconha. E a THC Pharmaceuticals, Inc. oferece o “Marizene”, um produto solúvel que pode ser consumido em alimentos e bebidas.

Este produto remove a água das plantas de cannabis e aumenta o potencial psicoativo da substância. Além disso, a empresa também produz, para uso clínico, uma injeção de cannabis, um solvente alimentar para preparação de sucos e comprimidos em cápsulas para prevenção de acne.

‘Opressão de minorias’

Crítico da política de guerra às drogas, o ex-senador afirma que seus únicos resultados foram a geração de conflitos e o aumento da discriminação racial entre a própria população.

“A guerra às drogas tem gerado uma situação terrível, desestabilizamos países como a Colômbia e colocamos mais de dois milhões de pessoas na prisão nos Estados Unidos. Usamos a criminalização das drogas como forma de oprimir as minorias, pois envolve todo um contexto de discriminação racial”, argumentou.

Na sua opinião, este tipo de produto deve ter seu cultivo regularizado e com a devida cobrança de impostos.

A política teve início no governo do republicano Richard Nixon (1969-1974) quando foi aprovada a Lei de Substâncias Controladas, em 1970, que incluiu a maconha entre as drogas proibidas.

“Foi com Nixon que criminalizamos de forma estúpida e começamos a fazer uso da força policial. Hoje em dia, a maconha é disponibilizada para seus consumidores através de cartéis e agentes criminosos.”

Gravel afirma que as drogas devem ser vistas como uma questão de saúde pública. “Se o tema é tratado como uma questão criminal, o problema em si nunca será resolvido, e ainda por cima irá fortalecer o poder dos criminosos que continuarão fornecendo drogas.”

O exemplo de Portugal

Portugal, Holanda, Suíça e Uruguai são exemplos de países que lidam “muito bem” com este tipo de política pública em relação ao uso de drogas, segundo o ex-senador.

A sua esperança é que os Estados Unidos sigam o mesmo caminho de Portugal, que descriminalizou em 2001 o porte de até dez doses de qualquer droga para consumo próprio.

“É exemplo de um país conservador de maioria católica que conseguiu descriminalizar as drogas e obteve grande êxito”, afirma.

Ele defende que o consumo de drogas seja regulado para adultos acima de 21 anos, mas ele admite que ainda será preciso vencer barreiras culturais. Gravel diz ainda que a decisão de descriminalizar é uma questão de “maturidade”, o que, em sua opinião, falta aos americanos.

“Espero que aqui nos Estados Unidos também consigamos chegar a este patamar. O movimento deve vir de baixo, da sociedade. Ainda poderá levar uma década ou até mais para conseguirmos chegar onde Portugal está hoje.”

“Aos poucos, a sociedade americana está amadurecendo, mas é muito conservadora neste ponto. Não sabemos lidar com estas questões de forma madura o suficiente. A população não é estúpida, mas sim, desinformada”, conclui.

Atualmente, 24 estados americanos que autorizam o uso da maconha para tratamentos médicos. Já os estados que têm sua própria legislação quanto ao uso recreativo são Colorado, a capital Washington (Distrito de Columbia), Alasca, Oregon e Califórnia.

*Fonte: BBC Brasil

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