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Em quem você confia mais: na indústria farmacêutica ou na natureza?

A disputa da indústria farmacêutica do mundo todo pelo bilionário mercado de medicamentos a base de maconha se torna cada dia mais evidente. A erva sequer foi legalizada no Brasil e a big pharma já está querendo marcar território.

Toda a matéria que é natural é também química. Se não fosse química, o que seria? A vida é um fenômeno químico. O mesmo vale para o que é “natural”. Tudo é natural. Até mesmo o que é químico. Mas a realidade vai muito além dessas interpretações.  A natureza, em seu sentido mais específico, é equivalente ao “mundo natural”. Existem substâncias que a natureza já nos entrega pronta, como é o caso do canabidiol (CBD) produzido pela cannabis.

A Anvisa, em 2015 admitiu as propriedades terapêuticas do canabidiol. Recentemente, uma empresa farmacêutica paranaense produziu o primeiro lote de CBD sintético. Ao mesmo tempo em que laboratórios internacionais apresentam propostas de montar fábricas no Brasil ao Governo Federal.

Papo reto

Vamos jogar limpo. Qual é a necessidade de se produzir canabidiol sintético, quando a natureza nos entrega pronto um produto com todas as moléculas em seus devidos lugares?

Por que essa busca para substituir o princípio ativo de origem natural, que pode crescer no quintal das casas dos brasileiros, por uma imitação produzida artificialmente? A estrutura de uma planta é tão complexa que não se consegue reproduzir em laboratório todas as substâncias que ela produz, com a mesma experiência genética de milhões de anos que a própria erva possui.

Afirmar na mídia que extratos de maconha in natura e canabidiol sintético são a mesma coisa confundem e desinformam a opinião pública, especialmente os familiares dos pacientes que se encontram aflitos para encontrar uma cura para a enfermidade que os aflige e ficam mais vulneráveis a se deixarem levar pelas propagandas que os laboratórios vêm aprimorando cada vez mais, pressionados pela concorrência.

Natural é sempre melhor

Desde os anos 70, muito tempo antes dos análogos sintéticos do canabidiol terem sido desenvolvidos e patenteados, pesquisas com o CBD natural já vinham sendo desenvolvidas.

Essa tentativa de sintetizar substâncias que a planta da cannabis nos fornece sem exigir nada em troca, ignora além de tudo o potencial agrícola que a planta tem em nosso país.

O CBD sintético é produzido por meio de processos químicos industrializados. Sua matéria-prima não é oriunda de origens biológicas, mas de reações entre os componentes em meios não naturais. Com isso, grande parte deles tem um impacto muito negativo no meio-ambiente, já que utilizam processos não sustentáveis, com substâncias estranhas ao ciclo natural dos ecossistemas.

O CBD de origem natural, por sua vez, têm como foco um público mais conscientizado, que exige alternativas sustentáveis e luta pelo direito de poder plantar o seu próprio medicamento. Grupos que são exímios conhecedores da cura pela natureza, que sempre estão em busca de processos de fabricação que não causem impactos ecológicos e que não agridam a natureza.

As substâncias artificiais, por serem produzidas em reações químicas industriais, não têm as mesmas propriedades das fontes biológicas por algumas razões. A primeira dela é a formação das moléculas que não fica fidedigna.

As reações bioquímicas do nosso corpo ocorrem de forma semelhante a um quebra-cabeça, além de possuirmos um sistema endocanabinoide com receptores prontos para receber os compostos da cannabis.

Devido à evolução das espécies, nosso corpo reconhece melhor moléculas de origem vegetal e animal, pois se assemelham ao nosso alimento. Nossos ancestrais não podiam contar com substâncias isoladas por meios artificiais.

Esses processos químicos industrializados ainda hoje não são capazes de mimetizar essas moléculas perfeitamente, então podemos perceber que o CBD de origem sintética certamente sofrerá problemas de absorção em muitos indivíduos.

Portanto, quando alguém opta por uma alternativa sintética em vez de uma natural, acaba não usufruindo de todos os benefícios que a planta nos propicia.

Isso traz uma desvantagem ao cidadão brasileiro, porque na impossibilidade de plantar em casa, acaba sendo obrigado a optar pelos sintéticos, pois não encontrará na farmácia o medicamento natural que busca, como acontece no país vizinho Uruguai.

Foco no lucro ou na saúde?

Assim, quando analisamos o preço isolado, os sintéticos podem ganhar algumas vezes, porque são vistos como simples produto ou simples mercadoria. Entretanto, se considerarmos o custo-benefício a longo prazo para o nosso organismo, os compostos naturais serão a melhor escolha.

As substâncias orgânicas tendem a causar menos irritação e por isso são buscadas pelas pessoas alérgicas aos produtos sintéticos.

O bem para a nossa saúde não deve levar em consideração apenas o produto em si, mas deve levar em conta ainda o processo produtivo por trás da substância em questão. Essa complexidade apenas reforça a necessidade de estudos de impacto mais detalhados, abrangentes e sistêmicos.

O que garante que algo faça bem à saúde? Como podemos encontrar essa informação de uma maneira confiável? O único jeito de saber é pela investigação da cultura local e das pesquisas científicas que progridem propondo soluções aos erros passados de comportamento e de industrialização de coisas desnecessárias.

Manipulação da “ciência”

Precisamos estar atentos, pois falsas pesquisas são difundidas na mídia, desde que Nixon era presidente dos EUA, buscando demonizar essa planta que é tão benéfica. Motivação para estudos verdadeiros e mais aprofundados dos canabinoides puros, como medicamento não faltam. Toda medicação precisa ter seus princípios ativos conhecidos, seu intervalo de dose terapêutica estabelecida, reduzindo dessa maneira o risco de efeitos colaterais.

Portanto, apesar da divulgação e do marketing intenso dos grandes laboratórios, essa alternativa está longe de satisfazer o desejo dos consumidores brasileiros.

Assim, na hora de escolher entre a alternativa sintética ou natural, não caia na propaganda dos grandes laboratórios, quando o remédio pode crescer em um vaso na sua casa. Opte sempre por alternativas naturais, cultivadas sem agrotóxicos ou qualquer substância sintética.

*Por Rodrigo Filho ∴, escritor, ativista e colaborador do Maryjuana

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2 Responses

  1. Angelo

    Sinceramente acredito que há bastante desinformação na discussão do “natural x sintético”. Um exemplo do artigo The modifcation of natural products for medical use (Zongru Guo, 2017)

    “from the viewpoint of drug research, many structures of natural products exist as ‘redundant atoms’, which do not participate in the binding to target and convey disadvantageous effects on the psycho-chemical, pharmacokinetic and biopharmaceutical properties. Therefore, those unnecessary moieties should should be appropriately removed from lead compounds in structural modifications, raising the ligand efficiency (LE) of molecules. LE is a measure of the binding energy per unit of mass for a given compound relative to its molecular target. High values of LE imply fewer unnecessary atoms relative to target-binding. This parameter is routinely used as one of the guiding factors in the early stages of lead optimization.”

    Não sou cientísta mas também tenho buscado refinar minhas opiniões baseadas em senso comum. Remédio é um negócio complicado e se há benefícios em termos de potencialização dos efeitos com base em engenharia molecular, acho que cabe à comunidade canábica entender as limitações da planta e o benefício de usar da ciência pra potencializar o presente que a natureza nos deu.

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