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Cannabis medicinal X maconha dos vagabundos

Deixe as ilusões de lado: os discursos sobre legalização da maconha no Brasil seguem mais hipócritas do que nunca.

O Brasil é mesmo um lugar engraçado (para não dizer desgraçado). Gigante por natureza, nosso país padece em um mar de ideologias confusas, colonizadas e cruéis – vide o resultado das últimas eleições presidenciais, que deixou à mostra toda a psicopatia da maioria dos eleitores, que optou pelo candidato mais burro e violento possível.

Mas voltemos à maconha. Para quem está nessa militância há pelo menos uma década, como eu, é visível o tom de hipocrisia que parte dos ativistas canábicos assumiu nos últimos tempos.

Se antes havia uma certa ilusão geral de que estávamos todos unidos em torno de um objetivo comum – o da legalização da planta – hoje é nítido o conflito de interesses e ideias dentro do movimento canábico.

OPORTUNISMO POR PURA MALDADE? OU NECESSIDADE?

Sobretudo a partir de 2014 – com o lançamento de um filme patrocinado por um famoso fabricante americano de óleo de cannabis – o debate sobre a regulamentação da erva tomou um rumo bastante arriscado (pelo menos sob o ponto de vista de quem defende a liberdade da planta e de seus usuários acima dos objetivos capitalistas).

De repente, meio que do nada, surgiu uma horda de “ativistas da cannabis medicinal” munidos de sentimentos de auto-importância e segundas intenções, incluindo alguns bancados por empresas estrangeiras, diga-se de passagem.

Com patrocínio e influências políticas, essa gente fez a hipocrisia (e os interesses corporativos) prevalecerem, apropriando-se do discurso da “cannabis medicinal” e da tragédia de alguns pacientes para garantir que seus patrocinadores dominassem o mercado brasileiro. De preferência, sem concorrentes.

Não por acaso, apesar das decisões pioneiras que garantiram o direito de cultivar cannabis a alguns pacientes e associação no Brasil, ao que tudo indica a maior parte do nosso povo seguirá privado do acesso à erva. Racismo e classismo as usual. 

ETERNA COLÔNIA

Ao priorizar a regulamentação do chamado “uso medicinal” – ignorando que todo uso de maconha, incluindo o dito “recreativo”, também é terapêutico – parte da militância canábica apostou que essa seria a melhor (senão única) maneira de forçar algum tipo de legalização no Brasil.

A ideia até que parece eficiente à primeira vista, não fosse o Brasil uma eterna colônia à mercê da exploração greenga & burguesa de sempre, como comprovam as últimas notícias vindas da Anvisa, que nos últimos dias aprovou proposta para liberar o plantio de maconha no país.

Sim, eu sei que para os mais incautos esse fato pode soar como um “grande avanço”, já que atualmente a única via de acesso aos extratos de cannabis com fins medicinais é através de um caro e buRRocrático processo de importação – ou através de Habeas Corpus preventivos e liminares judiciais que asseguram a legalidade de alguns poucos jardins pelo Brasil.

Mas, basta analisar as diretrizes da Anvisa com mais cautela para perceber que esta suposta regulamentação beneficiará única e exclusivamente grandes indústrias, sobretudo players internacionais, que já se preparam para colonizar nosso país mais uma vez.

À BEIRA DE MAIS UM GOLPE

Esse papo de “primeiro a gente legaliza o medicinal, para depois legalizar o resto” é o equivalente canábico daquela velha máxima que culminou no golpe político de 2016: “primeiro a gente tira a Dilma e depois a gente tira o resto”. Só que, no caso em questão, o golpe que se avizinha é dirigido especificamente aos maconheiros.

Afinal, no que depender da Anvisa e do discurso de quem defende “cannabis medicinal”, o acesso à planta (do cultivo ao consumo) seguirá restrito a poucos privilegiado$, enquanto a massa – e isso inclui você, querido leitor (a) – permanecerá vivendo sob a ameça de ser preso se ousar produzir e consumir sua própria maconha.

E aí, você acha justo que a big pharma multinacional possa encher os bolsos de dinheiro no Brasil, enquanto você seguirá proibido (e criminalizado) por cultivar uma planta em sua casa? Isso sem falar em todos os pretos e pobres que continuarão sendo presos, mortos e torturados por crimes relacionados à maconha, além da multidão de pacientes que seguirá à mercê da indústria farmacêutica…

PRIORIZE AS PRIORIDADES

É óbvio que os múltiplos benefícios terapêuticos da maconha devem ser valorizados na hora de lutar pela legalização da erva, assim como também é óbvio que quem sofre deve ter prioridade no acesso à planta.

Mas qual a melhor forma de garantir isso se não através de uma regulamentação que, em vez de priorizar unicamente interesses comerciais de grupos estrangeiros, descriminalize a PLANTA e garanta a todos os brasileiros o direito de cultivá-la e consumi-la sem o risco de parar na cadeia? Lembrando que essa ideia não exclui a possibilidade de também regulamentar a cadeia industrial farmacêutica, é claro.

Portanto, antes de achar que estamos “avançado”, considere onde poderíamos chegar caso a hipocrisia não fosse regra.

*Por Mônica Pupo, jornalista, ativista e fundadora do Maryjuana

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