Entenda o que a ciência já descobriu sobre os efeitos da cannabis no transtorno borderline e o que ainda precisa ser investigado.
Com o avanço da legalização e da aceitação social da cannabis, surgem novas perguntas sobre seus efeitos em diferentes condições de saúde mental. Uma delas: a maconha pode ajudar quem tem transtorno de personalidade borderline (TPB)? Ou, ao contrário, será que pode piorar os sintomas?
Neste artigo, exploramos os efeitos da cannabis em pessoas com transtorno de personalidade borderline com base em estudos e nas evidências mais recentes para entender melhor essa relação complexa.
O que é o transtorno de personalidade borderline?
Também conhecido como TPB, o transtorno de personalidade borderline é uma condição mental caracterizada por instabilidade emocional intensa, impulsividade e dificuldade nos relacionamentos interpessoais.
Não se trata apenas de variações de humor: o borderline envolve sentimentos crônicos de vazio, medo de abandono, crises de identidade e comportamentos impulsivos, que podem incluir automutilação, uso de substâncias e explosões emocionais.
Pesquisas indicam que o TPB costuma surgir a partir de uma combinação de fatores genéticos, ambientais e experiências traumáticas na infância, como abuso ou negligência.
Cannabis e saúde mental: uma mistura delicada
A maconha contém compostos como THC e CBD que atuam no sistema endocanabinoide – uma rede que regula funções como humor, estresse e resposta emocional. Por isso, algumas pessoas com transtorno de personalidade borderline acreditam que a planta pode ajudar a aliviar sintomas como ansiedade e instabilidade emocional.
Contudo, essa relação não é tão simples assim. Embora alguns pacientes relatem alívio com o uso da planta, os efeitos podem variar bastante, dependendo da pessoa, do tipo de erva e da frequência de uso.
O que dizem os estudos sobre cannabis e borderline?
Pesquisas recentes mostram que alguns pacientes com TPB relatam redução de sintomas como ansiedade, impulsividade e variações de humor após o uso de produtos derivados da planta, principalmente os que contêm CBD. Isso sugere um possível efeito regulador sobre a reatividade emocional.
Em uma pequena série de casos clínicos, seis em cada sete pacientes com TPB que usaram medicamentos à base de cannabis relataram melhora perceptível dos sintomas após um mês de tratamento, com poucos ou nenhum efeito colateral. Essa resposta rápida contrasta com o tempo de resposta dos medicamentos psiquiátricos convencionais, que geralmente levam semanas para surtirem efeito.
Esses resultados sugerem que os canabinoides podem ter um papel como tratamento complementar em momentos de crise emocional aguda. No entanto, os efeitos da cannabis em pessoas com transtorno de personalidade borderline ainda não são plenamente compreendidos.
Mas há riscos importantes
Apesar dos relatos positivos, o uso de cannabis por pessoas com transtorno borderline não está isento de riscos. O THC – canabinoide responsável pelo efeito psicoativo – pode aumentar sintomas como paranoia, ansiedade e impulsividade, especialmente em quem já vive altos e baixos emocionais frequentes.
Há ainda o risco de psicose induzida por cannabis, um quadro grave que envolve alucinações e delírios. Pessoas com transtornos mentais, como o TPB, são mais vulneráveis a esse tipo de reação, sobretudo se usarem maconha em grandes quantidades ou começarem o uso em idade precoce.
Além disso, é comum que pessoas com TPB apresentem histórico de uso problemático de substâncias, incluindo cannabis. O uso frequente pode levar à dependência e dificultar o tratamento dos sintomas.
Por que algumas pessoas com TPB recorrem à cannabis?
Muitas pessoas com TPB relatam usar a erva como uma forma de automedicação, com o objetivo de silenciar pensamentos acelerados, reduzir a ansiedade ou lidar com a dor emocional.
No entanto, há evidências de que essa estratégia pode prejudicar a resposta à terapia psicológica, com sintomas que evoluem de forma menos favorável em comparação a pacientes que não utilizam cannabis.
O que dizem os profissionais de saúde mental?
A maioria dos especialistas concorda que, embora a maconha possa oferecer alívio momentâneo, ela não deve ser considerada uma solução definitiva para o paciente com borderline. Especialistas recomendam que o uso da planta seja sempre acompanhado por um profissional capacitado, levando em conta o risco de efeitos adversos e dependência.
Produtos à base de cannabis com alta concentração de CBD, por exemplo, podem ter efeitos terapêuticos em alguns casos, mas mais estudos clínicos de longo prazo são necessários para confirmar a eficácia, segurança e dosagens ideais para pacientes com TPB.
A orientação geral é que a cannabis nunca substitua terapias comprovadas, como a terapia comportamental dialética, considerada padrão ouro no tratamento do transtorno de personalidade borderline.
Conclusão
A relação entre cannabis e transtorno de personalidade borderline ainda está em construção. Para algumas pessoas, a planta pode aliviar sintomas como ansiedade e impulsividade. Para outras, pode intensificá-los – ou até abrir portas para efeitos colaterais graves.
Por isso, o uso da planta por portadores de TPB deve ser feito com cautela e sempre com acompanhamento profissional. Em vez de apostar em soluções isoladas, o ideal é integrar diferentes abordagens terapêuticas, com foco na saúde mental e na autonomia do paciente.
Por: Redação Maryjuana