Em março de 2017 foi realizado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) o 5º Simpósio Internacional Maconha e Outros Saberes.
O evento, organizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) e apoiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), contou com a participação de expoentes de diversas áreas convidados a debaterem sobre temas relacionados à maconha.
Entre eles estavam Mauro Aranha, um dos diretores do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; os cineastas Rodrigo Mac Niven, Fernando Grostein e Tarso Araújo; a jornalista Fernanda Mena; os advogados Emílio Figueiredo, Cristiano Maronna e Luciana Boiteux; o cientista político e ex-secretário nacional de segurança pública Luiz Eduardo Soares; o pesquisador americano Ethan Russo; e o apresentador Cazé Peçanha, que mediou o evento.
Recentemente, este mesmo simpósio retornou à mídia, infelizmente não pela questão científica, mas sim por um absurdo cometido pelo Ministério Público: os organizadores do evento foram indiciados por apologia ao crime.
O motivo? Eles convidaram Geraldo Antonio Baptista, conhecido como Ras Geraldinho, para palestrar na mesa sobre filosofia e religião. Ras Geraldinho está preso desde 2013, condenado por tráfico de drogas. Ele é fundador de uma igreja rastafári e iria debater sobre o uso religioso da maconha. O líder religioso nem chegou a participar do simpósio.

A intimação policial da equipe de pesquisadores que organizou o simpósio causou comoção na mídia e em redes sociais.
Os organizadores do evento prestaram depoimento no 16º Distrito Policial no dia 21 de fevereiro – e, entre eles, estava o pesquisador mundialmente reconhecido Elisaldo Luiz de Araujo Carlini.
Carlini é graduado em medicina, possui título de Mestre em Psicofarmacologia pela Yale University, e é professor emérito da UNIFESP. Ele é membro do Expert Advisory Panel on Drug Dependence and Alcohol Problems da World Health Organization (WHO), da Academia Brasileira de Ciências (ABC), é diretor do CEBRID e já foi, inclusive, condecorado pela Presidência da República.
Em 1970, Carlini foi pioneiro nas pesquisas sobre a ação anticonvulsivante da maconha, e contou até com a colaboração do pesquisador israelense Raphael Mechoulam, o descobridor do Δ9-THC.
Hoje com 88 anos, Carlini soma 62 de dedicação à ciência. E ele não pensa em parar. Mesmo com a saúde debilitada por um câncer, o pesquisador fez questão de participar do simpósio em março de 2017.
Durante um dos debates, Carlini começou a sugerir a um de seus pupilos, temas que poderiam ser pauta no próximo evento. A seguir, comentou: “Não sei se estarei vivo até lá. Mas espero que sim”.
*Por LIA ESUMI: Bióloga, MS e PhD em Psicobiologia, e colaboradora no Maryjuana.