Pessoas com maior QI tendem a experimentar substâncias psicoativas com mais frequência ao longo da vida do que aquelas com inteligência média ou abaixo da média.
A constatação vem de um estudo de longo prazo amplamente citado, conhecido como British Cohort Study, cujos dados foram analisados por pesquisadores da revista científica Addictive Behaviors.
O estudo acompanhou milhares de participantes desde a infância até a vida adulta e encontrou uma associação estatística significativa entre altos níveis de inteligência e maior probabilidade de consumo de substâncias como álcool, maconha e outros psicoativos.
O padrão parece se manifestar desde cedo: crianças consideradas intelectualmente mais brilhantes mostraram, mais tarde, uma maior inclinação ao uso de substâncias.
Esses dados ajudam a compreender melhor a complexa relação entre inteligência e uso de substâncias psicoativas, uma pauta que desperta o interesse tanto de pesquisadores quanto de profissionais de saúde pública.
Curiosidade, inconformismo e busca por experiências
Segundo os pesquisadores, características como curiosidade aguçada, abertura a novas experiências e tendência ao inconformismo social podem explicar esse fenômeno. Esses traços, geralmente associados a pessoas de alto desempenho intelectual, favorecem a busca por descobertas e inovações, mas também podem conduzir a comportamentos de risco, como o uso precoce e frequente de substâncias.
Pessoas com QI elevado tendem a racionalizar suas escolhas com mais facilidade, o que, paradoxalmente, pode aumentar a probabilidade de se envolverem em padrões de uso prejudicial.
A inteligência, nesse contexto, não serve como proteção contra as consequências negativas do consumo de drogas ou álcool.
Efeitos adversos: estudos mais recentes apontam para riscos cognitivos
Embora o estudo britânico seja uma referência no tema, outras pesquisas mais recentes vêm trazendo nuances importantes sobre os efeitos do uso de substâncias, especialmente da maconha, em funções cognitivas de médio e longo prazo.
Um exemplo é uma meta-análise publicada em 2020 no PubMed, que identificou uma leve queda no QI (cerca de 2 pontos) entre usuários frequentes de cannabis que começaram o consumo na adolescência.
Mais recentemente, uma análise com ressonância magnética, publicada em 2025 pela JAMA Network Open, apontou redução da atividade cerebral em áreas ligadas à memória de trabalho em usuários intensivos da planta – sobretudo os que haviam feito uso recente.
Essas descobertas indicam que, embora o perfil intelectual possa influenciar padrões de comportamento de risco, os efeitos neurocognitivos do uso persistente de substâncias, como a cannabis, não devem ser subestimados.
A inteligência e o uso de substâncias psicoativas formam uma equação complexa, cujos impactos vão além do ato de experimentar.
Considerações finais
Em tempos de maior discussão sobre políticas de drogas, legalização e usos medicinais da cannabis, compreender como diferentes perfis cognitivos se relacionam com o consumo se torna ainda mais relevante. A inteligência pode explicar o porquê de alguém experimentar uma substância, mas não é garantia contra os riscos envolvidos.
*Por: Redação Maryjuana