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O Facebook e a vitória do preconceito

Atualmente a maior rede social do mundo, o Facebook mostrou nesta última semana todo seu lado reacionário & controverso. Enquanto a página inicial do site afirma, em letras garrafais, que ali “você pode  se conectar e compartilhar o que quiser com quem é importante em sua vida”, a realidade é outra. Obviamente que existem regras que regem os conteúdos divulgados, mas até que ponto elas são justas e bem aplicadas?

Enquanto páginas que pregam o ódio e a violência permanecem no ar por um longo período, mesmo após milhares de denúncias, outras são excluídas com base em critérios que obedecem ao bom e velho preconceito tão arraigado nas cabecinhas proibicionistas que – ainda – imperam em nosso planeta.

Que o diga Maria Antônia Goulart, de 63 anos. Após vencer um câncer com a ajuda da canábis, ela se tornou ativista e lançou um livro e um blog propagando informações sobre os benefícios da erva. Para ajudar na luta pelo direito de consumir seu remédio, Maria também mantinha um perfil no Facebook, intitulado “Apologia a cura”. Ali eram divulgados dados e montagens sobre o tema, muitas extraídas de seu livro homônimo. Ela também utilizava o perfil para manter contato com outros ativistas e pacientes de canábis medicinal, sempre enviando comentários e mensagens otimistas e muitíssimo bem educadas a todos com quem interagia.

Até que, no dia 9 de janeiro, ao tentar acessar a rede social, Maria foi surpreendida com a mensagem “DESATIVADO”. Segundo a administração do site, o perfil foi removido devido ao “nome alternativo que não a representava de forma autêntica”. Com o objetivo de evitar perfis falsos, o Facebook exige que os usuários cadastrem-se com “nomes reais”. Mas Maria contesta essa versão. “Tenho certeza que foi por causa do conteúdo, pois basta fazer uma breve pesquisa que é possível encontrar perfis ativados com nomes extremamente controversos e ofensivos, como Putas&Putas, Putão, Putaria, Bundas e Peitos, Bundas Gostosas, Merdas, etc”, afirma a ativista.

Para reativar o perfil, o Facebook exige que Maria envie por email a cópia de um documento de identidade com foto. “Eles querem me fichar, é isso?”, indaga, afirmando que, não importa quantos nomes e perfis ela tenha que fazer, sua “luta será sempre a mesma”. “Nunca me escondi, sempre mostrei a minha cara, falo abertamente que uso maconha para fins medicinais, mostro como a erva pode ajudar pacientes em muitos tratamentos, procuro informar e aprender, sempre passando informações mais autênticas possíveis.”

A certeza de que o perfil foi excluído devido ao conteúdo pró-canábis ficou mais evidente quando, no dia seguinte, ao tentar retornar à rede social utilizando seu verdadeiro nome, o perfil foi novamente removido em questão de horas. “Está muito difícil expressar a minha indignação, isto é puro preconceito, estão proibindo nossa liberdade de expressão e assumindo uma postura claramente proibicionista no que que diz respeito à discussão sobre a maconha”, reflete.

Estupro, pode; maconha, não

O caso de Maria Antônia veio à tona num momento mais do que oportuno, justamente na mesma semana em que o Facebook foi alvo de críticas de usuários indignados com uma página que pregava o ódio e a violência. Intitulada Lobo da Insanidade, a fan page, com mais de 57 mil fãs, incitava crimes hediondos como estupro e pedofilia. Sob a fachada do “humor negro”, os posts de extremo mau gosto abusavam do tom imperativo para propor que se estuprassem crianças, idosos e deficientes físicos.

Ao denunciar as postagens, os usuários recebiam a mensagem de que o conteúdo não seria excluído, pois  “não infringia as regras da rede social”. O proprietário da página – que chegou a ameaçar algumas pessoas que o denunciaram – afirmou, por diversas vezes, que sua página não sairia do ar já que ele pagava para anunciar no Facebook. Foi necessária uma mobilização maciça, liderada pela Liga Humanista Secular do Brasil, para que a página finalmente fosse retirada do ar no dia 8 de janeiro, após centenas de denúncias encaminhadas à Polícia Federal, Safernet e Ministério Público Federal. Ainda assim, duas páginas homônimas continuam no ar, reproduzindo o mesmo conteúdo (para saber mais sobre o assunto, clique aqui).

Com tanta controvérsia no ar, fica a pergunta: quais os verdadeiros valores que regem o Facebook? Hein, senhor Mark Zuckerberg?

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2 Responses

  1. André

    Isso é um absurdo. Por isso que eu nem tenho Facebook (ou qualquer outra rede social) o que querem é realmente fichar a Sra. Maria Goulart, e qualquer outro que queira discutir a sério o que seja não só a questão da drogadição, mas a própria sociedade. A discussão sobre a maconha é só a ponta do iceberg da sociedade careta…

    “Maldita flor da trombeta me pirou de vez
    E me levou para o inferno sem minha lucidez
    Fui perguntar pro Diabo se ele fumava um
    Fiz da canoa uma seda e eu não me toquei
    Foi quando ele respondeu: “Muito obrigado, amigo,
    mas eu sou careta”

    Ai meu Deus o diabo é careta
    Lhe denuncio pra galera seu capeta”

    A sociedade careta é o próprio capeta, e o Exmo. Dep. Feliciano, da comissão de direitos humanos? Sobre o caso dessa senhora ele não se pronuncia…

  2. Sr Weed

    Todos tem a alternativa a isso. Google+ é a saída por enquanto. Tem comunidades, chat e etc. Se o grupo mudar de rede e se todos começarem a fazer pouco a pouco, podemos sucumbir a rede.

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