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Maconha: a erva da paz

Lemos no Art. 5, inc. XVI da Constituição Federal de 1988 que todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público. Portanto, movimentos pacíficos, como a Marcha da Maconha de Maceió, não deveriam ser interrompidos como aconteceu em maio de 2015.

Na Marcha da Maconha, movimento pró paz e liberdade, o pedido dos manifestantes é o direito a uma convivência pacífica. Mesmo com orientações internas para não provocar ou aceitar provocação da polícia, o poder bélico insiste em querer frustrar o movimento. A palavra paz deriva da expressão latina Pacem = Absentia Bell, que também significa “ausência de violência”. Hoje, em janeiro de 2016, a paz está temporariamente proíbida no Brasil.

Quando fumamos maconha, alcançamos um estado de espírito isento de sentimentos negativos, como afirmou Alberto Breccia: “Fumei maconha e senti paz, tranquilidade e alegria”. Breccia foi secretário da Presidência do Uruguai de 2010 a 2012, senador, embaixador e tem doutorado em Direito.

O filósofo Descartes encontrou a paz morando na Holanda. Lá viveu durante 21 anos comprando erva selecionada a um baixo custo. Em sua obra “Olympica”, o pensador cita visões, sonhos e alucinações. O construtor do método racional era grande apreciador da cannabis.

Nosso artista brasileiro Romero Brito também relaciona a maconha à paz. Em 2015, o ícone da pop art pintou um quadro colorido de uma folha de maconha com sete pontas e na legenda escreveu: “paz, saúde e amor”.

O cachimbo da paz sempre simbolizou a serenidade em todas as culturas; um momento de calma e tranqulidade. Uma sensação de bem-estar e empatia sempre nos foi proporcionada pela cannabis. A paz questiona a todo momento a agressividade, a negação do ser humano e a lógica política macrossocial. A defesa da paz se tornou princípio constitucional, insculpido no artigo 4º, inciso VI, da nossa Constituição.

A sociedade de hoje com sua lógica cotidiana, na qual todas as pessoas estão o tempo todo batalhando umas com as outras para sobreviver, dá prioridade a quem tem mais armas ou dinheiro; o poder de compra determina as regras de convívio.

O cotidiano impõe a busca pelo “ter”, fruto do imediatismo praticado por muitos. Em uma sociedade fraterna, o respeito pela diferença vigora em todos os momentos. O confronto entre as pessoas deve ser abolido pelo bem de todos. Devemos ignorar a repressão como a que houve na marcha de Maceió para que o respeito pelas novas idéias passe a vigorar. Como eu disse no artigo “O fracasso de uma proibição inconstitucional”, O Direito Penal deve ser aplicado a criminosos, e não a jardineiros.

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A imagem que as pessoas que não conhecem a maconha fazem da mesma não condiz com a realidade. Esse rótulo de que o maconheiro é mau e que a Marcha da Maconha é composta por arruaceiros deve ser excluído. O uso recreativo não é para fazer as pessoas se alienarem dos problemas; é, na verdade, um ponto alto, onde você se valoriza, entra em contato com o seu eu interior.

Para quem procura um nível de percepção elevado, a maconha será sempre bem vinda. Olhar o outro como inimigo foge completamente da idéia de paz. Não podemos negar a realidade. A guerra contra as drogas é violenta e forte. O ciclo político-social da cannabis é amplo demais para ser ignorado, e seus usuários anseiam pela paz. Para reverter a proibição, o ensino do respeito deve estar mais presente nas escolas. O debate sobre virtudes que transmitam bons comportamentos e valores de cidadania e não-violência.

A proibição é fruto de uma sociedade configurada pelo corporativismo, que estimula a competição e a agressividade entre as pessoas. Os derivados da maconha representam concorrência para os monopólios da indústria em larga escala e em diversos setores.

A paz não se impõe com a força das armas. O homem tem sido lobo do próprio homem; não podemos continuar contando a história da humanidade com a história das guerras. Se as tensões se agigantam em todas as partes, por que proibir o alívio para essas tensões que encontramos na maconha?

Será que agredir o outro e negar o diferente é o caminho? Do macro ao micro, devemos parar de passar por cima dos verdadeiros problemas com o militarismo da selva de pedra. Por quantas guerras já passamos ao longo da história da humanidade? Não precisamos manter mais uma que não está ajudando em nada.

Podemos cultivar uma paz que aponte resoluções através do diálogo, do reconhecimento mútuo e do respeito pelo diferente.

Os conflitos existem e não podem ser negados, mas podem ser apaziguados. É possível, sim, resolver os problemas conversando com argumentos que não sejam de guerra. Os adeptos da cultura cannábica exigem ser respeitados.

Cada passo que damos em direção a paz é um progresso. Não podemos sucumbir à repressão. A cada nova manifestação de idéias, a egrégora da paz torna-se mais forte. A paz é cultivada, a paz é colhida, a paz é dichavada, a paz é fumada. Sigamos com a paz.

*Por Rodrigo Filho∴, escritor e ativista

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