Quem se dedica a conhecer a maconha um pouco mais a fundo já sabe que as propriedades medicinais da erva vão muito além dos canabinoides que a consagraram.
Conhecida por seus distintos aromas, a cannabis é rica em terpenos, que são óleos essenciais armazenados nas flores e frutos de diversas espécies na natureza.
Recentemente, os cientistas descobriram um fato que contrariou o senso comum dos estudiosos e amantes da erva em todo o mundo. Até há pouco tempo, acreditava-se que o perfil terpenoide das diferentes espécies de cannabis era composto por um conjunto de terpenos presentes em outras plantas, segundo atesta matéria da revista High Times.
Mas parece que não é só isso. Além destes compostos já conhecidos, a maconha – e, mais precisamente, o haxixe marroquino – possui o seu próprio terpeno, chamado hashishene, de acordo com estudo publicado em novembro de 2014 no Journal of Chromatography – mas que só veio à tona recentemente, com o boom do mercado de terpenos nos Estados Unidos.
Aroma inconfundível
Só quem já teve o privilégio de fumar um legítimo hash marroquino sabe o que é aquele aroma quase erótico – e praticamente impossível de ser encontrado em qualquer outro tipo de flor ou extração. Sim, esse cheiro doce que quase lembra um incenso é causado pelo hashishene.
Segundo o estudo francês, a forma como é extraído o haxixe no Marrocos é determinante para a formação do terpeno.
Produzido de forma artesanal nas montanhas da região, este tipo de haxixe vem de plantas geralmente secadas ao sol – o que faz oxidar terpenos como o beta-mirceno, a partir do qual acredita-se que tenha surgido o hashishene.
Descoberta do hashishene
A descoberta do terpeno típico da cannabis ocorreu de forma indireta, pois o objetivo dos cientistas envolvidos era outro – bem proibicionista, aliás.
No intuito de desenvolver um dispositivo capaz de ajudar a polícia a encontrar cannabis sem o uso de cães, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Nice Sophia Antipolis, na França, teve acesso a amostras de maconha e haxixe apreendidas na região.
Durante os testes, eles foram surpreendidos por picos no cromatógrafo causados pela substância identificada como 5,5-dimetil-1-hexano vinylbicyclo.
Encontrado em abundância nas amostras de haxixe marroquino, o novo terpeno foi batizado de hashishene. Até então, tal composto somente havia sido detectado em baixas quantidades num tipo de hortelã.
*Foto de abertura: AP Photo/Abdeljalil Bounhar