Nesta semana, um portal de notícias resolveu tirar uma reportagem polêmica do fundo do baú. O título, uma espécie de alerta, afirma: “Maconha causa mais câncer que cigarro, diz estudo”.
A frase prendeu minha atenção. A começar pelo tema da maconha e, depois, pela palavra “causa”. Em estudos científicos é difícil estabelecer uma relação de causalidade, isto é, determinar a real causa de um efeito. São muitos os fatores que podem estar envolvidos: Genética, estilo de vida, uso concomitante de cigarro…
“Como eles conseguiram descobrir que foi a maconha que causou o câncer?”, pensei.
Fui então atrás do estudo original. O artigo científico em questão foi publicado em 2008 na revista European Respiratory Journal.
Erros de interpretação
Já no título encontrei algo interessante: “Uso de Cannabis e risco de câncer de pulmão: um estudo caso-controle”. O título não menciona “causa”, mas sim “risco”.
O termo “risco” indica uma probabilidade – ou a força de associação entre dois fatores. Dois fatores podem até estar associados, mas não necessariamente um é a causa do outro.
Vamos a um exemplo prático, pense na frase: “Quando o consumo de sopas aumenta, aumentam também os casos de resfriado”. São as sopas que estão causando os resfriados ou existe mais algum fator que não foi considerado? O período do inverno!
O frio faz com que as pessoas se aglomerem em lugares fechados e sem ventilação, o que facilita a transmissão do vírus causador do resfriado.
Sendo assim…
O mesmo se aplica ao estudo mencionado. Não é possível afirmar que a maconha foi a causa do câncer, a não ser que todos os outros fatores tenham sido controlados. O que é impossível.
Prossegui na leitura do artigo. Na sessão de resultados, havia uma tabela com os seguintes valores: “Risco dos fumantes de cigarro desenvolverem câncer de pulmão = 6,7. Risco dos fumantes de maconha desenvolverem câncer de pulmão = 1,2”. O valor de 5,7 mencionado na reportagem se referia a um grupo restrito de participantes que relatou alto consumo de cigarros de maconha ao longo dos anos.
Induzida pelo título da reportagem, já esperava encontrar um número bem menor para o grupo de tabagistas. Pois é, segundo o estudo, o risco de câncer de pulmão no grupo com alto consumo de cigarros é de 23,9!
Moral da história: muito cuidado com reportagens ao estilo “estudo científico comprova”.
*Por Lia Esumi, bióloga e Ms/PhD em Psicobiologia
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