Ativista pela legalização da planta, a criadora da marca elaborou linha de bebidas que combinam com diferentes variedades da cannabis.
Se cultivadas e processadas adequadamente, flores de maconha geram notas sensoriais tão perceptíveis quanto as de uma boa xícara de café, por exemplo. Foi o que a jornalista Mônica Pupo constatou quando ganhou o primeiro pacote de grãos especiais. “O cheiro estava muito gostoso pela casa. Então, notei que o aroma pungente tinha a ver com o da cannabis“, lembra.
Ativista pela legalização da maconha desde 2012, Mônica viu ali uma possibilidade de harmonização – e de negócio. A primeira atitude foi dispensar o tradicional café preto moído de supermercado. “É a mesma coisa com o beck prensado. Depois que o consumidor de maconha fuma uma flor, uma coisa melhor, não quer voltar para o de antes. Com a bebida é a mesma história, moer o grão, sentir o aroma… Depois disso, ninguém quer o pó de gôndola de mercado, com sei lá o que no meio”, compara.
Mônica começou a visitar cafezais em busca de grãos que harmonizassem com diferentes variedades da cannabis. Em 2015, nasceu o Maryjuana Coffee. Animada com o novo produto, a jornalista levou alguns pacotes para a Expocannabis, no Uruguai.
O sucesso na feira lhe deu esperança: os frequentadores adoraram o café. De volta ao Brasil, Mônica foi para a casa dos pais, onde passou as festas de fim de ano. Foi acordada no primeiro dia útil de 2016 com a notícia de que a Polícia Federal havia entrado na casa dela.
A ação policial não se deu por causa dos cafés, mas porque Mônica estava cultivando alguns pés de maconha em casa e foi denunciada por um vizinho. Com a clara referência à cannabis nos pacotes do produto, os policiais levaram tudo. “Eu não fui presa, tive a chance de ter uma boa advogada me ajudando. Eles só entraram na minha casa com mandado. Se fosse na favela, era pé na porta”, critica a jornalista, que levou um ano para recuperar e recomeçar o negócio com um novo nome, menos sugestivo: Mary 4:20, lançado em fevereiro de 2018.
Harmonização
A combinação entre maconha e o grão foi notada pela jornalista num período em que precisou fazer home office. Como estava em casa, fumava durante o expediente. Para acordar, bebia café. “Tem erva que vai te derrubar bastante, dá um efeito corporal mais forte, geralmente são as Cannabis indica. Outras variedades têm o efeito oposto, podem até dar paranoia, a pessoa fica agitada. Isso varia de cada um”, explica Mônica.
Enquanto a maconha não for legalizada no Brasil, fica difícil para o cliente de Mônica saber exatamente como combinar os dois produtos. “Eu indico variedades que harmonizam diretamente. Se você conseguir perceber um sabor mais cítrico no prensado, indico o café Sativa. Se o consumidor tiver um gosto mais achocolatado, puxado para frutas ou flores, a dica é o Indica ou o Kush, por causa do perfil sensorial”, ensina a empresária.
Embora a maioria das harmonizações propostas por Mônica seja por similaridade, o contraste também é uma possibilidade. “O café Indica é mais amargo e, como as Cannabis indica, tende a ser mais doce, é uma harmonia diferente. Seria como comer um chocolate e beber um café. O amargo levanta o sabor do cacau, ou, no caso, da maconha”, completa a jornalista.
Todos os cafés vendidos na Mary 4:20 têm 84 pontos na escala da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), ou seja, são considerados especiais. Os quatro produtos vêm de Minas Gerais e, é claro, não precisam ser bebidos na companhia de um beck: podem ser apreciados perfeitamente como qualquer outra bebida. “Até minha mãe, que é a pessoa mais careta que eu conheço, adora o Mary 4:20”, comemora Mônica.
*Fonte: Metrópoles