Estudo aponta que a psilocibina – substância encontrada nos chamados “cogumelos mágicos” – pode efetivamente diminuir os sintomas da depressão resistente aos tratamentos convencionais.
Um dos principais objetivos da pesquisa em terapias psicodélicas assistidas é explorar como compostos a exemplo da psilocibina se comparam aos tratamentos de saúde mental mais tradicionais.
Estudos promissores conduzidos por pesquisadores em instituições como o Center for Psychedelic Research do Imperial College London indicam que a psilocibina pode combater os sintomas da depressão resistente ao tratamento.
Agora, uma nova pesquisa feita por cientistas da Johns Hopkins Medicine sugere que a terapia assistida por psilocibina pode ajudar mais pessoas com depressão do que se pensava anteriormente.
Publicado na revista JAMA Psychiatry, este novo estudo , que incluiu 24 participantes, revela que a substância – se administrada juntamente com a psicoterapia de apoio – leva a efeitos antidepressivos rápidos e amplos em pessoas com transtorno depressivo maior.
Após duas experiências com psilocibina, a maioria dos participantes do estudo experimentou esses benefícios, com metade deles livre de depressão durante o mês seguinte.
Os pesquisadores agora vão monitorar os pacientes por um ano para ver se os efeitos do antidepressivos são mantidos.
Evidências anteriores
Uma pesquisa anterior conduzida em 2016 também na Johns Hopkins Medicine descobriu que a terapia assistida por psilocibina pode aliviar a ansiedade existencial e a depressão em pacientes com diagnóstico de câncer terminal.
Já esta nova pesquisa sugere que o composto pode beneficiar uma população mais ampla de pacientes que lutam contra a depressão, o que inclui mais de 264 milhões de pessoas em todo o mundo .
“A magnitude do efeito que vimos com a psilocibina foi cerca de quatro vezes maior do que os ensaios clínicos mostraram para antidepressivos tradicionais do mercado”, disse Alan K. Davis Ph.D., principal autor do estudo.
Davis, professor assistente adjunto de psiquiatria e ciências comportamentais da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, acredita que há uma série de razões pelas quais essa a terapia psicodélica é tão eficaz.
Primeiro, Davis diz que este tratamento combina psilocibina com psicoterapia, enquanto os ensaios clínicos com antidepressivos geralmente não combinam a medicação com a terapia. Além disso, “é possível que a psilocibina afete uma gama mais ampla de áreas neurológicas e psicológicas que são responsáveis por sua eficácia”, conforme declarou o médico em entrevista ao site Lucid News.
Por exemplo, enquanto os antidepressivos afetam apenas neurotransmissores específicos, Davis destaca os efeitos neurológicos únicos gerados pela terapia assistida por psilocibina.
Efeitos da psilocibina em pacientes com depressão
De acordo com ele, a substância produz “mudanças na função de rede do modo padrão, conectando uma variedade de regiões do cérebro e regulando negativamente a hiperatividade da resposta da amígdala a estímulos emocionais negativos”.
Os efeitos psicológicos incluem experiências místicas e percepções psicológicas que Davis diz “podem fornecer um processo terapêutico mais rico”.
O pesquisador observa ainda que os antidepressivos também diferem da terapia com psilocibina porque podem levar semanas ou até meses para começar a funcionar e podem causar uma série de efeitos colaterais indesejados.
Já a terapia psicodélica apresenta efeitos colaterais mais brandos, sendo o mais comum “dor de cabeça leve a moderada que geralmente ocorre durante o dia ou à noite após uma sessão de tratamento”, completa Davis.
Alguns pacientes também experimentaram “ansiedade transitória leve a moderada durante os efeitos agudos do composto, mas tais efeitos parecem não interferir no benefício psicoterapêutico da terapia”.
Futuro
Os resultados do recente estudo da Johns Hopkins “podem ser uma virada de jogo se essas descobertas se mantiverem em futuros ensaios clínicos controlados por placebo de ‘padrão ouro’”, disse Davis em um comunicado oficial.
Tim Ferriss – empresário, filantropo e defensor da terapia psicodélica – apoiou o estudo como um doador importante. Em comunicado divulgado pela Johns Hopkins, Ferriss disse que a pesquisa foi “uma prova de conceito extremamente importante para a aprovação médica da psilocibina para o tratamento da depressão, uma condição contra a qual luto pessoalmente há décadas”.
Charles F. Reynolds III, psiquiatra geriátrico e autor de um editorial sobre a nova pesquisa , disse ao NPR que a pesquisa contínua sobre terapias psicodélicas “deve ser financiada por instituições convencionais como o National Institutes of Health”.
Este último estudo da Johns Hopkins dependeu de uma campanha de financiamento coletivo e de doações filantrópicas para acontecer. Reynolds diz que o apoio do NIH ajudaria a reforçar a credibilidade da nova pesquisa e a acelerar o desenvolvimento de terapias assistidas por psilocibina para pacientes que poderiam se beneficiar.
“A qualidade dos dados é tal que os investigadores podem competir com sucesso pelo patrocínio do NIH”, disse Reynolds.
“Nesse caso, eles poderiam levar sua ciência para o próximo nível, por exemplo, propondo e fazendo um ensaio clínico randomizado controlado por placebo. O financiamento do NIH pode ser de magnitude suficiente para permitir um estudo maior e mais rigoroso, incluindo a coleta de biomarcadores, como mudanças na atividade cerebral durante o uso de psilocibina.”
*Fonte: Lucid News