Menos depressão e mais disposição: confira os resultados de um estudo recente que avaliou pacientes em tratamento com cannabis.
Publicada no início desse mês na revista Plos One, a pesquisa aponta avanços considerãveis na qualidade de vida dos pacientes canábicos após três meses de tratamento. Ao todos, 2.300 pessoas com condições crônicas de saúde participaram do levantamento.
Conduzida por pesquisadores australianos, a pesquisa também revela uma redução significativa na fadiga. Além disso, os pesquisadores observam que os “pacientes que enfrentavam ansiedade, depressão ou dores crônicas também relataram melhorias nesses aspectos ao longo do tratamento”.
Metodologia
A pesquisa se concentrou nos pacientes australianos qualificados para a Iniciativa QUEST, um estudo prospectivo multicêntrico abrangente de pacientes com qualquer condição de saúde crônica recém-prescritos com cannabis medicinal entre novembro de 2020 e dezembro de 2021.
A idade dos participantes variou entre 18 e 97 anos, com uma média de 51 anos, sendo que 62,8% eram do sexo feminino.
Entre as condições relatadas pelos participantes, a dor crônica foi a mais comum, representando 69% dos casos, seguida por insônia com 23%, ansiedade com 22%, e uma combinação de ansiedade e depressão com 11%. Metade dos pacientes relatou sofrer de mais de uma dessas condições ao mesmo tempo.
Antes de iniciar o tratamento com cannabis, os participantes passaram por testes de referência para avaliar fatores como qualidade de vida relacionada à saúde, dor, sono, fadiga, ansiedade e depressão. Em seguida, responderam pesquisas de acompanhamento após duas semanas de tratamento, seguidas por entrevistas mensais durante três meses.
Todos os pacientes receberam óleo de maconha com uma combinação de THC e CBD em óleo de triglicerídeos de cadeia média (MCT).
O produto estava disponível em quatro formulações diferentes, cada uma com sua própria proporção de THC para CBD:
- Proporção de 1:20 de THC para CBD
- Proporção equilibrada de 10:10
- Proporção dominante de THC de 20:5
- Formulação com apenas CBD
Resultados
Em comparação com a qualidade de vida antes do tratamento, pacientes que completaram com sucesso os três meses de tratamento com cannabis relataram melhorias significativas no bem-estar geral.
Adicionalmente, houve redução geral na dor entre os participantes, especialmente entre aqueles diagnosticados com dor crônica.
Quanto à depressão, os autores do estudo enfatizaram que, embora as pontuações tenham mudado de moderada para leve, essa diferença não atingiu o limite de 5 pontos considerado clinicamente significativo.
No entanto, quando se analisou especificamente 288 participantes que sofriam de “condições de saúde relacionadas à depressão, como depressão mista e ansiedade, transtorno depressivo recorrente e transtorno bipolar”, o estudo destacou que “os entrevistados passaram da categoria grave para moderada de depressão, com uma diferença de mais de 5 pontos, indicando melhora clinicamente significativa”.
Em relação aos escores de ansiedade, os participantes mostraram tendências de melhoria ao longo do tempo, embora não tenham alcançado uma “melhora clinicamente significativa”, com exceção dos 748 participantes diagnosticados com condições de ansiedade. Segundo o estudo, “em média”, os escores mudaram de “moderados/graves para leves em relação à ansiedade”.
Quanto à insônia, o estudo sugere que: “A análise de 534 participantes com diagnóstico de insônia não revelou mudanças estatisticamente significativas ou clinicamente significativas nas médias das pontuações de sono ao longo do tempo, não diferindo dos pacientes sem insônia”.
No entanto, os níveis de energia aparentemente melhoraram, pois a fadiga diminuiu, “indicando melhora clinicamente significativa”.
Durante o período de observação de três meses, 127 participantes desistiram do estudo. Suas razões incluíram o tratamento não funcionar (52 pessoas), mudança de tratamento (31), efeitos colaterais indesejados (30) e o alto custo dos produtos de cannabis (14).
No entanto, a maioria dos participantes relatou algum alívio. “Dentro dos primeiros três meses de terapia com cannabis medicinal, os participantes relataram melhorias em sua qualidade de vida relacionada à saúde, fadiga e condições de saúde associadas à ansiedade, depressão e dor”, disseram os autores em um comunicado à imprensa.
Apesar da recepção geralmente positiva dos resultados, os pesquisadores observaram que algumas das melhorias relatadas podem ser atribuídas ao efeito placebo.
“Existe a possibilidade de que as melhorias observadas se devam, em parte, ao efeito placebo, considerando a ampla discussão pública (na mídia e redes sociais) sobre os benefícios da cannabis medicinal e sua interação com o sistema endocanabinoide, o que aumentou as expectativas dos pacientes.”
Os pesquisadores afirmam que seguirão acompanhando os pacientes por um período de 12 meses para determinar se as melhorias nos resultados relatados são mantidas a longo prazo.
*Por: Redação Maryjuana