CONTEÚDO JORNALISTÍCO PARA MAIORES DE 18 ANOS
Home > CULTIVO > Por dentro de um clube canábico no Uruguai

Por dentro de um clube canábico no Uruguai

O Brasil vai ter que comer muita empanada com doce de leite pra chegar aos pés do Uruguai quando o assunto é legalização da maconha. Enquanto na pátria do prensado qualquer incauto cultivador pode ser detido e acusado de tráfico de drogas – mesmo que tenha só uma planta germinada ao acaso – nossos hermanos estão incontáveis patamares acima no quesito liberdade individual.

Aprovado em dezembro de 2013, o ousado projeto de legalização proposto pelo governo de Mujica ainda segue incompleto. Das três vias de acesso previstas à erva, “apenas” o auto-cultivo e os clubes canábicos estão em vigor & a todo vapor (seja de sódio ou metálico). Já as polêmicas farmácias, que supostamente venderão maconha produzida pelo Estado, permanecem como uma ideia um tanto quanto obscura e que ainda não saiu do papel.

Mas quem precisa de farmácia quando se pode plantar no próprio guarda-roupa ou jardim, sem medo de tomar uma dura do coxinha mais próximo? Ou melhor: quem se preocuparia com “maconha estatal de farmácia” quando se pode plantar com os melhores amigos?

Pois é essa a ideia & o feeling por trás dos clubes canábicos uruguaios, que constituem uma das formas mais inteligentes e eficazes de garantir acesso justo e controlado à erva.

Durante visita ao Uruguai para a Expocannabis, em dezembro passado, tive o privilégio de conhecer as instalações do primeiro clube canábico registrado no país, o El Piso, localizado em Montevideo.

Nesta sala estão 99 plantas em fase de floração

Fundado em junho de 2014, o clube segue à risca as normas estabelecidas pelo Instituto de Regulación y Control del Cannabis. A começar pelo número de plantas, que não pode ultrapassar 99 em estágio de flora. Além disso, a entidade deve ser composta por no mínimo 15 e, no máximo, 45 sócios – todos maiores de idade, nascidos ou naturalizados no país.

IMG_6529

No dia da visita ao grow, cerca de 50% das plantas já estavam prontas para a colheita, marcada para o dia seguinte, um domingo. O momento da manicure – assim como as tarefas de limpeza e manutenção do grow – são compartilhadas entre alguns membros, que possuem um abatimento na mensalidade. Os demais pagam aproximadamente 1800 pesos uruguaios (cerca de R$ 180) para fazer parte do clube e ter acesso à erva, que jamais deve ultrapassar a quantia de 480 gramas ao ano por sócio.

IMG_6517

Dentre as espécies cultivadas pelo El Piso nesta última temporada, figuram strains clássicas & potentes, como OG Kush, Sour Power, Lavender, Chocolope e LA Confidential. Além dos buds, os 40 sócios do clube também têm acesso aos extratos, haxixes e concentrados que eventualmente venham a ser produzidos. “É tudo compartilhado entre todos”, reitera Diego Garcia, jardineiro responsável pela plantação.

DSCN2319

Constituído como “associação civil”, o clube canábico é regido por um estatuto que, entre outras coisas, também estipula uma única pessoa como “jardineiro-chefe” – geralmente aquele que possui mais experiência e melhores colheitas no currículo. No caso do El Piso, a nobre função está à cargo de Diego Garcia, ganhador da última Copa Cannabis.

IMG_6547

Embora a lei uruguaia determine o número máximo de 99 plantas em floração, não há nada especificado sobre a quantidade de plantas no período vegetativo. “Aqui temos 159 clones vegetando, além das 13 madres”, relata Diego, mostrando uma sala equipada com 2 mil watts de lâmpadas de vapor metálico dedicadas exclusivamente à vega.

DSCN2279

A sala de vega também abriga um berçário, onde os novos cortes são colocados para enraizar. Assim que são colhidas, outras plantas já vegetadas são enviadas para a sala de flora, enquanto os clones já enraizados são transplantados e colocados para vegetar. “Assim garantimos ciclos de cultivo ininterruptos”, comenta Diego.

IMG_6524

Ao lado, a sala de floração está equipada com oito lâmpadas de vapor de sódio de 600 watts, além de sistemas de exaustão e ar condicionado para manter a umidade e a temperatura sob controle.

IMG_6543

Diego aproveita para nos mostrar também os fertilizantes que costuma usar para nutrir as plantas. Seguindo a tendência uruguaia de um cultivo mais limpo e natural, apenas aditivos orgânicos e obtidos através de fontes naturais são utilizados.

IMG_6550

Uma das exigências do IRCCA é preenchimento de fichas que detalham a aplicação de fertilizantes, fungicidas e demais produtos aplicados nas plantas. “É importante manter tudo anotado e organizado, pois se houver qualquer irregularidade estamos sujeito à multa durante uma eventual fiscalização”, conta Diego. Até a data da reportagem, o El Piso não tinha passado por nenhuma fiscalização.

IMG_6525

Flor prestes a ser colhida pelos felizes membros do El Piso.

IMG_6532

Para das contas das inúmeras e extenuantes funções de jardineiro, Diego trabalha em média oito horas por dia, de segunda a sexta, além de alguns finais de semana. “É necessário ter dedicação integral ao trabalho, por isso recebo um salário previsto no orçamento do clube”, diz ele, que deixou o emprego formal numa loja para se dedicar ao que mais gosta: plantar maconha!

Para saber mais sobre o país mais progressista da América do Sul, clique aqui.

You may also like
Uruguai pode permitir venda de maconha a turistas estrangeiros
Ministro do STJ propõe veto aos habeas corpus para cultivo de maconha
Governo Lula emite nota favorável ao cultivo de cannabis medicinal
UFSC inicia plantio de maconha para pesquisa veterinária

Leave a Reply

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.