O movimento Cultive seu Direito voltou a ocupar as ruas de Santiago do Chile, no sábado (5/5), para reivindicar a ampla liberação do uso da maconha.
As cores verde, amarela e vermelha, identificadoras do movimento rastafári mundial, e o cheiro próprio do consumo da planta em cigarros deram o tom da celebração pacífica.
A principal avenida de Santiago recebeu os adeptos do consumo da planta, que passou a ser combatida com mais intensidade na América Latina a partir de uma política punitiva adotada pelos Estados Unidos.
Receita médica
O fim da proibição do consumo no Chile segue a mesma proposta vitoriosa no Uruguai, onde o tráfico foi desarticulado depois de o Estado tomar para si a responsabilidade de organizar o consumo restrito da planta por parte de seus fãs.
“Pela saúde, pela dignidade e pela liberdade”, dizia um dos cartazes levados pelas organizações sociais que promovem a legalização total da planta, em um país onde o consumo privado da maconha já é permitido, mas sua venda, não. O reggae é o gênero musical preferido dos manifestantes.
Uma leve cortina de fumaça ergueu-se diante do palácio La Moneda, sede do governo, famoso mundialmente como símbolo da democracia, desde seu bombardeio pelas forças golpistas chilenas em 19 de setembro de 1973, quando suicidou-se ali o presidente eleito Salvador Allende.
Ao longo do trajeto, os manifestantes assinaram um documento para ser entregue aos representantes do governo. Os ‘maconheiros’ chilenos justificam o pedido do fim da política restritiva com os direitos ao uso medicinal e recreativo da planta utilizada desde antes da colonização espanhola.
O governo chileno anunciou o plantio e a colheita de sete mil pés de maconha destinados à elaboração de um fitoterápico para patologias associadas ao câncer e à epilepsia, entre outras afecções. Os efeitos tranquilizante e de estimulante do apetite são próprios da maconha, atestam os cientistas.
Em 2015, um decreto do governo de Bachelet já permite o uso da maconha, da resina de maconha, de extratos e de tinturas para a elaboração de produtos farmacêuticos para serem adquiridos em farmácias mediante receita médica.
Oferta e demanda
Os entusiasmados militantes pró-maconha chilenos amparam-se nos números divulgados pelo governo uruguaio para ter direito às razões que defendem.
Quatro anos depois de entrar em vigor a lei da maconha, o Uruguai comemora uma redução de até 40% nos crimes relacionados ao narcotráfico.
No Uruguai, é liberado cultivar até seis pés de maconha, participar de clubes de fumantes de 15 a 45 membros ou adquirir o produto em farmácias do governo.
Nos primeiros meses de implantação da lei, as longas filas formadas diante das farmácias chegaram a ameaçar o sucesso da proposta, mas o aumento da produção equilibrou a relação entre oferta e demanda. Todos os usuários uruguaios são cadastrados pelo Estado, que, assim, mantém mais fácil e transparente o controle e o monitoramento do consumo. Com esta medida, os traficantes, que viviam dos efeitos da clandestinidade, enfrentam uma queda no seu poderio.
*Fonte: AFP