Nova pesquisa canadense identifica mudanças cerebrais em usuários com transtorno por uso de cannabis e reforça os alertas sobre o início precoce do consumo.
Um estudo publicado em abril de 2025 na revista JAMA Psychiatry reacende um tema crucial para a saúde mental e o debate sobre os riscos do uso abusivo de cannabis: a ligação direta entre o uso problemático da planta e alterações em áreas do cérebro associadas à psicose. A pesquisa foi conduzida por cientistas canadenses da Western University e do Lawson Health Research Institute, em Ontário.
Utilizando uma técnica de imagem avançada chamada ressonância magnética sensível à neuromelanina (NM-MRI), os pesquisadores analisaram o funcionamento do sistema de dopamina – neurotransmissor diretamente relacionado à motivação, prazer e sintomas psicóticos – em 61 jovens adultos com e sem transtorno por uso de cannabis (CUD, na sigla em inglês), alguns deles também diagnosticados com esquizofrenia em primeiro episódio (FES).
O que o estudo encontrou sobre cannabis e psicose?
Os resultados mostraram que usuários frequentes e problemáticos de cannabis apresentam aumento de atividade dopaminérgica na região do mesencéfalo conhecida como área tegmental ventral e substância negra – justamente o mesmo circuito cerebral já identificado em quadros psicóticos.
Ou seja, o estudo sugere que o uso de cannabis em níveis patológicos pode alterar a sinalização dopaminérgica em áreas críticas envolvidas no desenvolvimento da psicose.
Essas alterações foram observadas mesmo em participantes que não tinham diagnóstico de esquizofrenia, indicando que o consumo frequente e precoce de cannabis pode, por si só, afetar o sistema dopaminérgico de forma semelhante à psicose clínica.
Quem são os mais afetados?
Segundo os dados, a maioria dos participantes com CUD era do sexo masculino, com média de idade de 24 anos. Impressionantes 84% dos usuários com transtorno por uso de cannabis relataram consumo diário de cannabis, e quase metade apresentava sintomas de dependência severa. Além disso, os usuários com CUD apresentaram níveis mais altos de THC na saliva, maior consumo de nicotina e pontuações cognitivas mais baixas em testes de fluência verbal e QI pré-mórbido.
Por que isso importa?
A pesquisa não condena o uso responsável da cannabis, especialmente em contextos medicinais ou adultos informados. Mas alerta: iniciar o uso da planta ainda na adolescência ou desenvolver um padrão problemático pode aumentar significativamente o risco de desenvolver transtornos psiquiátricos graves.
“Esses achados apontam para uma convergência entre os efeitos da cannabis e os mecanismos neurobiológicos subjacentes à psicose, particularmente nas vias de dopamina”, explicou a autora principal, Jessica Ahrens.
E agora?
Com a legalização da cannabis avançando pelo mundo, inclusive no Brasil para uso medicinal, o estudo destaca a urgência de campanhas educativas que diferenciem o uso recreativo ocasional do consumo problemático, além de reforçar a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção entre adolescentes e jovens adultos.
Por: Redação Maryjuana