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O orgulho é nosso, a justiça é de todos

Acabou o mês do orgulho LGBTQI+, mas a luta por justiça continua.

Todos os anos deveríamos lembrar que, em 1969, os LGBTs marginalizados de Greenwich Village, em Nova York, se revoltaram contra a violência policial e seu protesto tomou as ruas com tumulto e pancadaria. Ao completar 50 anos em 2019, essa história foi lembrada e comentada por diversas diversas vezes na imprensa, sempre ávida por uma efeméride – ainda mais se for “polêmica” e gerar engajamento (bom e ruim).

Quem acompanha as chamadas “Paradas Gay” sabe que o interesse corporativo sempre esteve presente. Interessadas no nicho de mercado LGBTQI+, várias marcas fazem questão de estar nos eventos e estampar nosso arco-íris em seus produtos, mas em 2019 a quantidade de apoio extra espantou. A ponto de explicitar as contradições dessas ações de marketing.

Há uma imensa disputa de narrativa em curso. Há quem diga que o pior já passou, que agora podemos aproveitar o que a vida (de consumo) tem a oferecer e gozar dos direitos conquistados. Porém, quem vive esperando perseguição ou violência na próxima esquina sabe que consumo não é a inclusão que precisamos.

Quem acompanha as movimentações políticas pelos direitos dessas minorias também sabe que todas as duras conquistas ainda não estão consolidadas e podem ser revogadas.

Até a série de protestos que começaram em Stonewall, lésbicas, gays, transgêneros e pessoas queer foram marginalizadas e vulnerabilizadas sob a ideia de que seu comportamento era vergonhoso, inapropriado e deveria ser não apenas escondido, mas apagado.

O orgulho veio denunciar que esta exclusão é injusta. Por isso, o orgulho LGBTQI+ é tão somente a correção de um caminho errado que toda a sociedade tomou. Principalmente, para que não voltemos a justificar com medo ou vergonha o tratamento odioso que essas populações recebiam – e, em muitos lugares (do Brasil), ainda recebem.

Este é o orgulho pelo qual lutamos. Ele é a bandeira sob a qual nos reunimos para denunciar a desigualdade dentro da nossa sociedade. E todos os que quiserem se aliar a esta causa são primeiro bem-vindos, mas logo em seguida questionados dos seus motivos. Porque é bom que uma marca queira tratar todos os seus clientes igualmente, isso pode até tornar suas dependências em um espaço de convívio entre as diferenças, educando a população para a diversidade. Mas ela não pode ser neutra diante de injustiças. Ou suas ações serão vazias, e o consumo dos seus produtos será apenas vaidade.

Ativismos lado a lado

Para além dos LGBTs que também estão no movimento canábico, todas as pessoas organizadas na bandeira pela legalização do consumo de maconha no Brasil devem se questionar como seu movimento se alinha com os valores ao redor.

É preciso cobrar das empresas, inclusive as estrangeiras, responsabilidade com os brasileiros e seus direitos. Caso contrário, corremos o risco de aplaudir uma “abertura de mercado” que pouco benefício trará para nosso povo.

É preciso cobrar o estado das políticas públicas de saúde, para que tenhamos pesquisa e informação a respeito das plantas que nos cercam e seu bom uso.

Exigir políticas de agroecologia e reforma agrária, para que tenhamos liberdade de possuir e cultivar sementes.

E paro só com estes exemplos, pois eles não terminam. Mas já que hoje o texto é sobre o movimento LGBTQI+, espero deixar a mensagem para vocês que abracem também nossa luta por igualdade. Não existe uma sociedade meio justa ou meio livre.

Luta que segue

Continuaremos lutando pelos objetivos específicos, comunitários. Projeto de lei a projeto de lei, mas na consciência que há muitos outros grupos sociais precisando de apoio.

Temos que nos sensibilizar pelas causas uns dos outros e ouvir muito, para termos experiência direta da nossa imensa diversidade.

Vamos nos reconhecer parte de um todo. Afinal, reconhecer nosso lugar na história – e o assumir – compensa. Pois, como já disse Hemingway: “quem está conosco na trincheira importa mais que a própria guerra”.

*Por Leila Dumaresq, travesti, ativista e filósofa 

**Fotos: Tarek Mahammed (@tarek_fotografo)

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