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Engenheiro de MG planta cannabis para desenvolver tecido de maconha

Uma iniciativa em Viçosa, Minas Gerais, poderá colocar o Brasil numa posição de destaque no mercado de produtos derivados da maconha – como medicamentos e matérias-primas renováveis – no futuro.

A startup mineira se dedica à seleção de variedades da planta que poderão se adaptar bem ao clima brasileiro, além do estudo das características do solo, irrigação e controle de insetos em plantas cultivadas na Universidade Federal de Viçosa (UFV).

A instituição federal é tradicional no ensino de agronomia e cedeu as instalações para a empresa do engenheiro
agrônomo Sérgio Rocha. As plantas da startup passam por cruzamento genético e geram informações que ajudarão a entender quais as melhores para cada objetivo e condição climática brasileira. São estudos técnicos a longo prazo, avalia Sérgio.

“É como o cultivo da soja nos anos 50 no Brasil. Nos primeiros anos, não se teve sucesso e foi preciso investimento em melhoramento genético para produzir plantas adaptadas ao nosso clima”, exemplifica.

Até agora, foram encontradas 72 variedades diferentes da planta. “São como tipos de tomate: há o tomate-cereja, o tomate de mesa. É a mesma coisa com a cannabis, com a diferença de que ainda não sabemos como as variedades irão funcionar em nossas condições climáticas”, afirma. Cientistas acreditam que, originalmente, a Cannabis é da Ásia Central, onde é hoje a China.

Segundo ele, há interesse de setores do agronegócio para competir com o mercado internacional da planta no futuro, em especial contra os Estados Unidos e Canadá. Sérgio também foi acionado por setores ligados ao uso medicinal da cannabis, como laboratórios e associações.

No exterior, empresas e laboratórios podem cultivar, desenvolver e comercializar produtos derivados da maconha – é o que acontece em países da Europa e em estados dos Estados Unidos, por exemplo. No Brasil, a lei não permite.

Por enquanto, há apenas um projeto aprovado em uma comissão interna da Câmara dos Deputados para liberar o cultivo medicinal, veterinário, científico e industrial da Cannabis sativa.

Botou na Justiça

Sérgio afirma que a empresa moveu um processo na Justiça Federal para obter a permissão para o estudo científico da cannabis. Os detalhes estão em segredo de Justiça e também são parte estratégica da empresa, diz.

“É uma autorização para pesquisa e desenvolvimento de tecnologias”, resume.

A startup se associou à universidade, onde Sérgio também estuda, que fornece a infraestrutura e segurança para o cultivo. Os recursos para tocar o negócio são inteiramente financiados por investidores sem ligação com a universidade, diz.

A ação judicial é o meio usado por famílias e associações de familiares para importar ou cultivar maconha medicinal para o tratamento de doenças ou condições crônicas, como epilepsia e esclerose múltipla.

As diferenças

O cânhamo também é estudado pela startup. A fibra de maconha pode ser usada para a produção de cordas e tecidos. Nos últimos anos, também vem sendo testado na produção de aeronaves, pilhas e baterias.

Os medicamentos derivados da maconha têm substâncias que variam de acordo com o tratamento. A fibra, por outro lado, precisa de uma quantidade insignificante de THC, o composto que “dá barato” no uso recreativo e é dosado no medicinal.

“Muitos países recomendam que o cânhamo pode ter, no máximo, 0,3% de THC”, explica.

As pesquisas da startup já concluíram que o cânhamo é possível de ser cultivado no país, mas o calor brasileiro traz dificuldades para mantê-lo dentro dos parâmetros exigidos de psicoativos. Mas não é preciso pressa.

Enquanto o cultivo medicinal avançou, o uso de cânhamo ainda gera atrito judicial. Em 2021, a Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com ação para impedir a importação de sementes de cannabis do tipo “industrial”, ou cânhamo, pedida na Justiça por um produtor rural de Paranoá, no Distrito Federal.

Segundo Sérgio, possíveis investidores são afastados pela ausência de uma lei bem definida sobre o assunto. Enquanto isso, cientistas continuam a trabalhar em Viçosa. O próximo passo é criar padronização bioquímica das espécies e vê-las se comportar diante de insetos com a ausência de agrotóxicos.

“A Cannabis é uma matéria-prima renovável muito versátil”, diz, “e os principais competidores do Brasil já a tratam como uma cultura agrícola”, conclui.

*Fonte: Ecoa Uol

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